terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A culpa é do ensino médio

Ensino Superior - Qual a sua avaliação da qualidade do ensino su­­perior no Brasil hoje? Estamos evo­luindo ou regredindo?
Não temos muitos dados para falar sobre isso. Exatamente porque essas avaliações não dão um padrão de qualidade, elas fazem as comparações dentro de cada curso. Acredito que temos segmentos de muito boa qualidade, mas que são poucos. Esses segmentos são bons e alguns deles podem estar melhorando. Mas, na média, acho que o sistema está tendendo a se massificar e a perder qualidade. Eu diria que o setor de qualidade é pequeno e o setor mais aplicado, mais técnico, que seria uma solução, não está se desenvolvendo porque todo mundo quer imitar o modelo das tradicionais.

Ensino Superior - É possível massificar o ensino sem perder a qualidade?
É claro que essas instituições perdem em qualidade. Há tentativas de reverter isso, mas é óbvio que estudar em uma butique é muito melhor do que estudar em uma loja massificada. Algumas faculdades particulares seguem o caminho de criar suas "butiques": com salas pequenas, poucos alunos, maior contato com os professores, que são de tempo integral, mas caríssimas. E os alunos de classes mais altas já estão preferindo essas universidades às públicas. Em áreas como Direito, Administração - em especial em áreas ligadas a negócios - as universidades privadas estão ocupando um espaço muito importante.

Ensino Superior - O senhor fala em crescer sem perder a qualidade?
Não é perder a qualidade, é diversificar, fazer coisas diferentes. Tem de haver um sistema que possa pegar o aluno desprovido de uma boa formação, mas que quer continuar estudando, e dar a ele um tipo de formação que pode ser boa. Ele pode ser um bom mecânico, ou ele pode ser um bom especialista de vidros. Ele pode fazer uma porção de coisas e bem feito. E o outro, mais bem preparado, vai fazer Física, vai fazer Matemática e vai para a Engenharia. É difícil, mas temos de começar a pensar que não é uma hierarquia de qualidade, são opções, alternativas. E aí entra o problema desses tipos de exames como o Provão e o Enade. Quando se tem uma prova única, todas as escolas têm de ser iguais às melhores. Restringe-se a possibilidade de surgirem faculdades com um bom ensino, só que mais restrito quanto ao campo, ao tema, ao tipo de formação. Essa poderia ser uma opção legítima.

Trechos da entrevista do prof. Simon Schwartzman à revista Ensino Superior, edição nº 119.
Ele acredita que o Brasil não vai incluir mais alunos no ensino superior enquanto não superar deficiências da educação de base.
Para ler a entrevista completa clique aqui.

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